Uma vida por uma vida.

Quando a Cleonice me avisou da morte do  Lenon, ela me disse - "então, Cris, cuide do seu filho, faça como eu fiz, dedique-se a ele, por que depois fica só a saudade e um vazio". E é exatamente isso que eu faço!

Eu decidi, por amor e por achar que esse é o papel de mãe, cuidar pessoalmente do meu Reizinho. 

Eu abri mão da vida lá fora pela vida do meu filho. E é só assim que eu sei viver! Querem me ver feliz? Deixem-me em casa, na companhia do meu Reizinho, de preferência com ele no meu colo. Um filme na TV, um sofá com almofadas, carícias na cabecinha do Vini e existirá uma mãe com o coração tranquilo e aliviado. É como se eu desse parte da minha vida para ele. E é bem assim, eu dou parte da minha vida p/ ele e sinto que a minha vida é acrescentada!

Eu fui adaptando as coisas ao nosso estilo de vida. Tento sair de cada e resolver tudo em um só dia. Treinava na academia, agora treino em casa, de segunda à sábado, às 6h, há meses.
Não sei até quando viveremos assim, mas é o que nos é possível para hoje.  Peço renovo diário a Deus, que multiplique a minha disposição, para que eu cumpra com dedicação, zelo e amor o que cabe a mim.

Uma dica p/ quem se interessar - eu treino com os vídeos da Carol Borba, no YouTube. Ela é TOP! Todo domingo, ela passa os treinos da semana. Eu só descanso no domingo. É de graça 😃 e eu me mantenho em forma. 

Aaah, o tempo!

A Veroka, minha irmã mais velha, disse esses dias  - " o tempo não cura nada, ele ameniza a dor, ameniza a ferida."
Com o passar dos anos, eu tenho percebido que os sentimentos que vão no coração sofrido "dessa pessoa que vos escreve" mudaram. Antes, eu me angustiava demais por ter perdido tudo o que um dia eu tive com o meu Reizinho. Se eu passasse em frente a uma escola, chegava a chorar ao lembrar que o Vini estudava. Se visse um garoto da idade dele fazendo qualquer coisa, isso me transportava p/ o início da nossa história, desde o diagnóstico da ALD, que nos tirou a liberdade.
Hoje é diferente. Por tudo o que já sofri, pelo tanto que já chorei, por tantas fases ruins pelas quais passamos, eu penso mais no agora, no presente e no dia que está por vir, do que no passado.  Meu coração está mais calmo. Estou mais agradecida pelo Vini estar em casa e não no hospital, do que me lamentando por ele não estar andando. Consigo mais agradecer por ele estar vivo, do que me lamentar por estar doente.
Semana passada, fui à papelaria com a Ana Liz p/ comprar seu material escolar, comprei toda a lista, enfrentei uma fila gigante, esbarrei em muitas crianças e não pensei no Vini com sofrimento por ter tido sua vida escolar interrompida, pensei nele com o coração tranquilo, por minha mãe não ter me ligado, sinal que ele estava bem.
Não estou conformada com tudo o que nos aconteceu. Jamais! Não me conformo. É trágico e desumano a degeneração, mas estou mais experiente e mais madura. Isso foi obra do tempo.

Agradeço aqui às pessoas que me ajudaram, novamente  - a Mariana mandou outra caixa de dieta; a Ana Clara trará da Alemanha, adesivos p/ o Reizinho; foram feitos dois depósitos na minha conta, um mês passado e outro, esse mês, o que me ajudou muito! Nao sei quem fez, mas a gratidão é grande! Continuamos sem receber a dieta.
Deus retribua a cada um! Eu oro por todos.

Hoje o dia foi triste p/ mim. A Cleonice me avisou que o Lenon, portador de ALD, faleceu. Ela me avisou somente hoje, mas, ele partiu dia 7.
A Cleonice é uma mãe lutadora e guerreira! Mora aqui em Campo Grande. Quando foi fechado o diagnóstico do meu Reizinho, a neuro e a endócrino me aconselharam a conversar com ela, que já tinha experiência com a doença. Eu liguei p/ ela, marcamos o encontro e fomos até lá.  Ela conheceu o Vini no início dos sintomas, ele ainda andava, mas estava bem agitado.
Quando o Lenon foi diagnosticado com ALD, foi feito exame no seu irmão Leandro e infelizmente, constatou que ele também era portador. Então, foi feito o transplante de medula, que é a única forma de tentativa de cura antes de se manifestarem os sintomas, mas, o Leandro faleceu por complicações.
A Cleonice seguiu cuidando com muita dedicação do Lenon. Ela me disse hoje, que ele morreu em casa, na cama com ela, muito tranquilo. Ela acordou, ele estava sem vida. E aconselhou todas as mães a fazerem o que puderem pelos seus filhos, para que depois não haja arrependimento e , sim, a certeza de que tudo foi feito e Deus decidiu levar.

Eu chorei. A vida que eles levam não é vida, mas, a morte, a separação é triste demais. Só Deus por nós.

Fé viva!

Eu ouvi uma ministração em que o pastor disse - "Não deixe que sua percepção humana tire você do mundo de Deus!"
Na teoria, parece simples, mas na prática não é.
Você conviver com uma tribulação por anos, encarar o sofrimento dia após dia e conseguir desviar o olhar do problema e focar em Deus requer fé ativa, esforço e decisão.
Ontem, foi um dia em que o  desânimo tentou me pegar. Olhei p/ o Vini na poltrona, sem movimento, com dificuldade respiratória e acreditei que esse era o nosso fim. Disse p/ Deus - " Não tem como orar! Como vou crer que algo bom pode acontecer, vendo o meu filho assim?"
Cerca de uma hora depois, o Vini já estava na cama, eu entrei no quarto e fiquei olhando
p/ ele com dor no coração. Então, resisti ao desânimo, levantei e comecei a orar. Comecei agradecendo a Deus por termos uma família estruturada nele; intercedi pelos nossos pastores e por todos que congregam na CEAC, intercedi pelos os que ainda não foram salvos; orei por todos os enfermos e famílias que passam por situação igual a minha, por último clamei pelo meu filho.
No final da oração, o meu ânimo era outro e já olhava p/ o Vini com os olhos da fé.  Então, eu entendi o que o pastor disse em sua ministração.
É possível SIM, viver no mundo de Deus e não deixar nossa percepção humana nos tirar dele, mas para isso é preciso sermos gratos pelo o que já nos foi feito, ao invés de murmurarmos pelo o que nos falta. É preciso orarmos pelo outro, pensando na necessidade do próximo, isso diminui a nossa necessidade. Precisamos nos preocupar com a salvação daquele que ainda está perdido, aí percebemos o quão privilegiados somos.
Ao tomarmos a decisão de vencer o desânimo e praticar a fé, o mundo de Deus vem sobre nós.
Sigamos!

Quem é o anjo?

Recentemente, a mãe de uma amiga faleceu. Muito triste, ela me disse que antes de morrer, a mãe falou p/ o filho que ele e a irmã  (essa minha amiga) foram anjos na vida dela. Isso mexeu comigo!
Eu acho que a vida se resume nisso - cuidarmos bem de quem Deus coloca no nosso caminho. E outra coisa - quem é  o anjo? Quem cuida ou quem é cuidado?
Eu até posso ser um anjo na vida do Vini, pois dedico a minha vida a ele e cuido dele com muito zelo e amor. Mas, ele é muito mais anjo na minha vida!
Foi o meu Reizinho que me fez ser uma pessoa melhor, mudou os meus valores e o meu jeito de olhar a vida, por ele, eu saí da superficialidade dos sentimentos e aprendi o significado de amor incondicional.
Anjos existem! Às vezes, eles são de carne e osso, caminham lado a lado conosco até que se cumpra o propósito para qual eles vieram. Podemos chorar na caminhada e depois na partida, mas o aprendizado adquirido e o gostinho de missão cumprida faz valer cada lágrima derramada.

Amor!

Hoje o Vini tomou banho não era nem 8 horas, aí logo fez fisio e depois da fisio, eu fui trocá-lo e aspirá-lo, quando percebi que ele estava trêmulo. Instantaneamente, fiquei com as pernas bambas e coração apertado. Achei que ele estivesse com febre.  Mas, graças a Deus, não era febre, era só frio, estava com a temperatura baixa.
Mais tarde, entrei no quarto e ele estava dormindo. Eu olhei p/ ele com taaaaaanto amor, um amor que chega doer!
Lembrei de uma mãe do grupo que disse que essa questão de mãe e filho é algo visceral. É verdade! Visceral é algo que está arraigado, enraizado, no profundo, no íntimo, nas entranhas. Então, eu acho que explica bem o meu amor pelo Reizinho.
Quando eu pensei que ele estivesse com febre, eu já relacionei com ele sofrendo, com pneumonia, com internação, com traqueostomia e até com perda do meu  filho. Oh mente fértil, viu!?! rs

Enfrentamos tanta coisa! Junto com a luta diária pela vida tem a pressão constante de que algo ruím possa acontecer. Isso gera medo. O medo é de ficar sem o Vini. Penso eu que todas as mães, na mesma situação, sejam assim, caso contrário, eu sou anormal rs

Amo! Amor incondicional! Algo assim, visceral!

Pessoas entram e saem da nossa vida com frequência. Mas, algumas são especiais demais, deixam a sua marca e um vazio com a ausência.
A Renata, fisioterapeuta da tarde, não vai mais atender o Reizinho. Ela saiu da empresa, vai seguir novos caminhos.
Hoje, foi seu último dia conosco. Com o coração apertadinho, desejamos sucesso na nova etapa.
Tem sido assim, quando nos acostumamos e nos apegamos ao profissional, temos que nos despedir.
Vida que segue.

Tem dia em que não há palavras, há suspiros;
Há lágrimas no lugar de sorriso;
E uma dor abafada no peito.
Tem dia em que a incompreensão anula qualquer tentativa de aceitação e dá uma vontade de sair gritando, esmurrando, chutando.
Não há nada que eu possa fazer, além de amar e cuidar.
Hoje já orei, já li a Palavra, mas a angústia insiste em ficar.
Eu sei que vai passar, faz parte da luta.

Meu Reizinho está bem, com a graça de Deus.
Dias tranquilos, nossa rotina com cuidados e muuuito amor.
Hoje, entrei no quarto e ele estava dormindo na cama dele e a Ana Liz estava dormindo na minha cama, que é ao lado da dele, eu pensei  - Existe algo que deixe o coração de uma mãe mais tranquilo do que os filhos dormindo debaixo dos seus olhos?
- Não existe!

Estamos na primeira semana do ano de 2018 - é a semana das primícias para Deus, culto para Ele de segunda a domingo. 
Não há lugar mais seguro para estarmos se não na presença do Senhor! Somente Ele tem o poder de acalmar o coração angustiado e aquietar a alma aflita.

Salmos 3:8 - " A Tua bênção está sobre o teu povo."

Feliz 2018!!

Eu termino o ano de 2017 com o que a Ana Liz falou para o irmão  - "mano, podia você, meia noite, levantar!"
Que adentremos o ano de 2018 com esperança, independente das circunstâncias.
Ainda que os nossos olhos vejam um cenário de dor e dificuldade, acreditemos que no de repente de Deus tudo pode mudar.
Com a virada de ano, geramos expectativas de coisas boas, melhores que as passadas. Que tenhamos fé e bom ânimo para realizá-las.
À meia noite tudo pode ser diferente.
Feliz Ano Novo!!